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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Estação Carandiru (Drauzio Varella)

ISBN: 85-7164-897-2
Cidade/editora: São Paulo/Companhia das Letras
Ano de Publicação: 1999
Páginas: 297

"Experiência de um médico no maior presídio do país."

O livro se trata de um relato do médico Dr. Drauzio Varella sobre seu trabalho na Casa de Detenção em São Paulo nos anos de 1989 a 1992, o ano do massacre que matou 111 presos. Ele irá contar sua experiência desde os primeiros dias trabalhando em um projeto de prevenção à AIDS, e depois, conforme foi ganhando a confiança dos detentos e dos funcionários. 

No livro, não vamos apenas saber sobre sua rotina como médico, mas também sobre o seu contato com os detentos; a estrutura física da cadeia, no início temos uma foto panorâmica para localizarmos os pavilhões e os espaços descritos na história; a vida ali dentro, desde a hora que acordam, os responsáveis pela faxina, os carteiros, os que ajudam na enfermaria, parceiros de trabalho do Dr. Drauzio Varella; os conflitos, que poderiam ter motivos fúteis, como também acerto de contas, seja por uma dívida ou por ter causado mal a algum parente/amigo; a história dos detentos, a infância, a entrada no mundo do crime.
É apresentado os vários personagens, ladrão de banco, justiceiros, estupradores, estelionatários, trombadinhas, etc., todos lutando para sobreviver em uma ambiente tão hostil, praticamente inumano que é o presídio.

Os detestáveis ali dentro e que precisam ser separados dos outros são os justiceiros e os estupradores, preso não perdoa esse tipo. Outro ponto que merece destaque, é a passagem do uso da cocaína injetável, para o crack, que tem o lado bom de não espalhar o vírus HIV, porém o destino é tão sofrido quanto.

O livro tem 297 páginas, a fonte das letras tem um tamanho muito bom, os capítulos são curtíssimos e também tem várias fotos internas do presídio. A minha edição é da editora Companhia das Letras, mas tem outras edições mais recentes que eu acho a capa mais bonita.
A História da Penitenciária de São Paulo
"(...) a penitenciária foi erguida e inaugurada no dia 21 de abril de 1920 e, por muitos anos, foi um dos cartões postais da nossa metrópole. (...) Estima-se que os presos daquela época possuíam uma rotina de exercícios, trabalhos, estudos e, até mesmo, bandas de música. Contudo, após 20 anos a situação ia piorar bastante." (São Paulo in foco)

Em 1956 foi inaugurada a Casa de Detenção, ao redor da penitenciária de São Paulo, sua capacidade era de 3.250 presos, porém chegou abrigar mais de 7.000 detentos.

Dúvido que nunca tenha ouvido falar no Dr. Drauzio Varella, mas por via das dúvidas, ele é médico cancerologista, nascido em 1943 e formado pela Universidade de São Paulo (USP). Foi um dos pioneiros no tratamento da AIDS. Atualmente ele tem um canal no youtube muito bacana!

Eu já tinha ouvido críticas positivas sobre o livro, mas o que realmente despertou meu desejo de lê-lo foi uma foto que vi no instagram (não me lembro do ig) que mostrava a seguinte passagem:

" - Não conseguimos dormir dentro do barraco. Uma, porque nós ficamos perturbadíssimos, e, outra, que o cheiro de carniça era forte; o chão estava de sangue até o rodapé. Só no dia seguinte é que limpamos tudo, e eu arranjei uma Bíblia.
No livro sagrado, Dadá finalmente leu o Salmo 91 recomendado pela mãe na véspera, e diz que chorou feito criança com o trecho:
 - Mil cairão a teu lado e dez mil à tua direita, mas tu não serás atingido; nada chegará a tua tenda."

Eu achei tão chocante que fiquei interessada em ler, e o restante não é menos forte que isso. 
Apesar de ser uma leitura fácil, não é nada "leve", tem várias cenas bem pesadas. Drauzio Varella não poupou as informações.

Sei que tem o filme também, porém, não pretendo assistir tão cedo. Mas caso eu mude de ideia, farei uma resenha comparando com o livro.

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